Hoje é o Dia da Língua Portuguesa, mas aquilo que celebramos não é apenas um idioma. O que celebramos é um conceito que destaca os povos falantes de português não apenas da família das línguas românicas, mas também no mundo. Sem ter conta do continente – Europa, América do Sul, África ou Ásia – o Dia da Língua Portuguesa é apenas um pretexto para lembrar dos costumes, tradições, da calidez dentro dessas almas românticas que inventaram as saudades, coisas de que merecem serem festejadas em cada dia.
Espalhados pelo mundo, os falantes de português vêm reunidos sob o nome “CPLP” e todos celebram no 5 de maio o Dia da Língua Portuguesa. Os países que pertencem a essa organização são: Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
O alvo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)
A comunidade incentiva cooperações nos setores da “educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e comunicação social” que são indispensáveis para uma boa cooperação entre os países membros (cplp.org).
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A ideia de um tal ajuntamento foi, no início, apenas um desejo da parte das pessoas oriundas destes países que se concretizou no 17 de julho de 1996. O seu alvo, verbalizado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama, numa visita a Cabo Verde:
O processo mais adequado para tornar consistente e descentralizar o diálogo tricontinental dos sete países de língua portuguesa espalhados por África, Europa e América seria realizar cimeiras rotativas bienais de Chefes de Estado ou Governo, promover encontros anuais de Ministros de Negócios Estrangeiros, efectivar consultas políticas frequentes entre directores políticos e encontros regulares de representantes na ONU ou em outras organizações internacionais, bem como avançar com a constituição de um grupo de língua portuguesa no seio da União Interparlamentar. (cplp.org)
Prestemos atenção à estrela do Dia da Língua Portuguesa – o português, claro!
Íberos, celtas, romanos, bárbaros, mouros e colónias – Falta algo? Bom, essa é uma simplificação absurda, mas é um resumo curto de todas as influências cujo resultado celebramos hoje no 5 de maio – o português. Nascida na Península Ibérica, num território rodeado pelo Oceano Atlântico, esta língua desenvolveu-se ao longo de mais de 2000 anos.
- Celtas
O português é uma língua românica, tal como o espanhol, o italiano, o francês e o romeno. Quer dizer, vem do latim vulgar que começou a ser falado no século III a.C. com a invasão do Império Romano. Antes disso, a língua lusitana era aquela falada que pertencia aos Celtas, oriundos do lugar onde hoje fica a França. Palavras como “cais“, “caminho“, “embaixada” e “peça” são de origem céltica. Todavia, a mais importante seria mesmo a palavra “Portugal” que vem de “Portus Cale” da mesma origem. Com a chegada dos romanos, a língua dos Celtas começou a ser absorvida.
- Romanos
O ano 218 a.C marcou a invasão romana. Tal como aconteceu em outros países, o latim chegou a ser usado na administração e na igreja – lugares de privilégio. Diz-se que o 90% do léxico do português vem do latim. Por muito bem-sucedida que tivesse sido a ocupação dos romanos, teve os dias contados. No território da península chegaram os bárbaros – povos de origem germânica – que aproveitaram o colapso do Império. Na Galécia, houve o reino Suevo e, na Lusitânia, estabeleceram-se os visigodos. Nomes como “Rodrigo” ou “Afonso” e a letra “ç” fazem parte da herança visigótica.
- Mouros
A assimilação do céltico, do latim e da influência germânica ia transformar-se já no português se não houvesse a invasão dos mouros. O ano 711 d.C. marca a chegada das tropas muçulmanas do Norte da África. Pelos seguintes 5 séculos os donos desta terra foram os árabes. Eles deixaram palavras como “açúcar“, “alface“, “laranja“, a terminação nasal “-ão” e despertaram o desejo português por uma reconquista do próprio território.
- Português
Com os árabes expulsos da Península Ibérica, o povo começa a falar o galego-português que, ao longo do tempo, dividiu-se em galego e o português, o derradeiro nomeado assim em 1290 pelo rei Dinis I. Desde agora, podemos falar de “português” no verdadeiro sentido da palavra.
O Dia da Língua Portuguesa celebra-se em mais de um país
Dado que o seguinte período na era de Portugal trata-se das viagens marítimas e, depois, da criação das colónias em vários lugares na Terra, convém que falemos também nas variedades do português moderno.
Falada por 230 milhões de pessoas, a maioria das quais são do Brasil, a língua portuguesa tem ritmo variado dependendo de onde é que é falada. É o oitavo idioma mais falado no planeta e está presente em quatro continentes (todamateria.com.br). Se isso não bastasse para te convencer tirares um curso de português, quero acrescentar 5 mais razões para provar a beleza desta língua!
Em Portugal, celebramos o Dia da língua portuguesa de…
Camões, do fado e das saudades!
O país-mãe de todas as outras variações, Portugal é uma joia que merecia ser mais famosa na Europa. Igualmente melancólica e colorida, vivaz e tranquila, com uma história monumental, titãs na literatura, abertura para o presente e o futuro, terramotos e destruição, heróis e apaixonados, do Norte para o Sul, descrever Portugal em poucas palavras não lhe fazia justiça.
O português europeu destaca-se pela sua grande variedade que cabe num território tão pequeno. Falamos dos dialectos portugueses setentrionais (transmontanos, baixo-minhotos-durienses-beirões) os dialectos portugueses centro-meridionais (da Coimbra, Leiria ou Lisboa), das ilhas atlânticas, dialectos setentrionais (como o do Porto) e centro-meridionais (como o do Algarve) (pt.wikipedia.org).
No Brasil, celebramos o Dia da língua portuguesa de…
Machado de Assis, do samba e do bom humor!
Tal como Portugal, descrever o Brasil em poucas palavras seria um sacrilégio – um povo admirado por todos pela calidez caraterística, paisagens fascinantes de montanhas, cataratas e seu litoral que nem precisam de introdução, o Brasil é uma coletânea de personalidades, comidas, tradições tão diferentes que tomaria mais de uma vida chegar a descobri-lo inteiro.
O português brasileiro destaca-se pelo facto que é impossível ter apenas uma variação. Embora todos se compreendam entre si, há um certo orgulho em cada sotaque que difere de cada zona. A variedade do português brasileiro merecia um artigo separado… ou até dois! É muito evidente reparar no Baiano pelo seu uso de “barril” (ex.: esta festa está um barril), no Recifense com “agonia” (ex.: ele é muito agoniado), no Carioca que usa “caô” (ex.: deixa de caô!), no Gaúcho pelas suas interjeições como “ba, tchê“, etc. (super.abril.com.br).
Em Moçambique, celebramos o Dia da língua portuguesa de…
Mia Couto, da escultura em madeira de Macondo e da música!
Um bocado isolado dos outros países falantes de português, dado que está rodeado por países que foram colónias inglesas, vale a pena visitar Moçambique por várias razões: praias que deixariam até as Maldivas ciumentas, uma história rica e tumultuosa que serve para ouvir contos interessantes e sabores e músicas únicos no mundo… e estou a falar a sério! Gule Wamkulu é um tipo de dança, parte do Património Cultural Intangível da Humanidade da UNESCO.
Sabiam que devido ao movimento do Rifte Africano Oriental, Moçambique poderia fazer parte do oitavo continente? Por causa das erupções de vulcões na zona entre e a Etiópia no Norte até ao Moçambique, prevê-se uma futura cisão do continente. Saiba mais aqui.
O português de Moçambique destaca-se pela influência do árabe e português. No final das palavras terminadas em ‘e’ passa para ‘i’ em vez de ‘ɨ’ como em Portugal e encontramos a supressão do fonema /r/ final. A supressão de vogais não acentuadas não é tão forte como em Portugal. (pt.wikipedia.org). Lembra-te que quando quiseres tomar o pequeno-almoço, vais “matabichar” e se algo for “muito” interessante, poderias chamá-lo de “maninge interessante” (youtube.com).
Em Cabo Verde, celebramos o Dia da língua portuguesa de…
Cesária Évora, do morno e das praias mais lindas!
Um país conhecido pela beleza única do seu povo, resultado da combinação genética entre os portugueses e os povos nativos desses lugares, Cabo Verde tem bastante para atrair. Uma vez a segunda cidade mais rica do Império português, a sua arquitetura é impressionante, os seus alunos recebem uma educação muito mais elevada do que os dos outros países africanos, a sua música encontra o equilíbrio perfeito entre novo, eletrónico, e tradicional, como o morno, e, igualmente, o desenvolvimento das ilhas combina com o povo autêntico (youtube.com).
O português cabo-verdiano destaca-se dos outros idiomas porque coexiste com o crioulo. O “l” é dental, o “e mudo” de “medir” vem pronunciado como “i” e o ditongo “ui” na palavra “muito” não é pronunciado nasal. Atendem o telemóvel dizendo “alô” como no Brasil, bebem água “fresca“, e assistem concertos de “conjuntos” e não “bandas” (pt.wikipedia.org).
Em Angola, celebramos o Dia da língua portuguesa de…
Pepetela, de Kizomba e dos dreadlocks!
Um dos países mais desenvolvidos da África, Angola orgulha-se com um relevo muito diverso desde desertos até praias. De ponto de vista cultural, diz-se que deveríamos agradecer aos angolanos pelo samba brasileiro, dado que o seu estilo de música tradicional chama-se semba e dança-se assim!
O português angolano destaca-se porque é muito característico e bastante diferente, tanto do europeu, quanto do brasileiro. Muitos sons abertos em Portugal e no Brasil são fechados aqui. Eles também mastigam “chuinga” (do inglês chewing-gum), apanham o “machimbombo” e vivem em “musseques” (pt.wikipedia.org).
Referências:
- cplp.org/id-2763.aspx
- cplp.org/id-2752.aspx
- pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_l%C3%ADngua_portuguesa
- todamateria.com.br/historia-da-lingua-portuguesa
- pt.wikipedia.org/wiki/Portugu%C3%AAs_europeu
- pt.wikipedia.org/wiki/Portugu%C3%AAs_brasileiro
- pt.wikipedia.org/wiki/Portugu%C3%AAs_de_Mo%C3%A7ambique
- pt.wikipedia.org/wiki/Portugu%C3%AAs_cabo-verdiano
- pt.wikipedia.org/wiki/Portugu%C3%AAs_angolano